O fotógrafo invisível – por Izan Petterle

Descobri nessa viagem pela Ruta de Che na Bolívia uma nova maneira de fotografar que até então só intuía.

Faz 4 anos que só fotografo com iPhones, durante esse período fui mudando minha maneira de fotografar, o resultado que obtinha com as câmeras profissionais não funcionava mais nesse novo formato.

Além da óbvia praticidade de poder carregar a câmera no bolso, percebi que as pessoas não se importavam com a minha presença tirando fotos, afinal era apenas mais um segurando um smartphone no meio da multidão.

Até agora não tinha produzido nenhum trabalho mais “sério” com iPhone, porém, quando decidi ir à Bolívia em busca do Che optei por usar somente um iPhone 7 Plus.

O uso prolongado e contínuo do celular como câmera fotográfica, possibilitou-me colocar em prática todo o aprendizado que tinha adquirido nesses últimos anos, como um samurai que treina repetitivamente durante longos períodos com a sua espada se preparando para o duelo final.
Os povos andinos, entre outros, são conhecidos pela sua tradicional aversão a serem fotografados, muitos fotógrafos sabem disso, sendo quase impossível fotografar de uma maneira espontânea e tranquila. 


Cartier Bresson falava muito da necessidade de um fotógrafo ser o menos intrusivo possível.

O advento das compactas câmeras Leica nos anos 30 permitiu isso. 

Agora, quase na segunda década do século XXI os smartphones tem uma qualidade muito similar a várias câmeras semiprofissionais.
Grande parte das imagens que fiz nessa viagem me permitiu ter acesso às pessoas de uma maneira inusitada.

A invisibilidade do fotógrafo traz vantagens inesperadas para fazer fotografias que seriam impossíveis com câmeras profissionais.

Essa é a grande lição fotográfica que tirei dessa incrível jornada onde me vi livre, literalmente, do peso de um equipamento que me obrigava a carregar corpos de câmeras, objetivas, notebook, hds externos, cartões de memória, baterias extras e uma série de acessórios periféricos necessários para fazer meu trabalho.

Libertei-me também do formalismo de um tipo de linguagem documental ao qual estava condicionado.

Resgatei o sentido lúdico do ato fotográfico. 

 

Foto: Valle Grande, 8/10/2017
Uma loja, mistura de funerária com venda de licores, fiz essa imagem como se estivesse falando ao telefone.

 

Saiba mais sobre o trabalho de Izan Petterle:  Fotógrafo do staff da National Geographic Brasil.
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